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Ha algum tempo, muito antes dos carros e bem depois dos trens em um lugar frio, aonde havia um bibliotecário e uma biblioteca.

O trabalho era dentro de uma sala muito fria e um pouco escura, e fico pensando quantos livros haviam por lá. Eram paredes com muitas prateleiras, forradas de livros de cima a baixo e no meio da sala ainda mais prateleiras. Todas com livros dos mais variados tamanhos e com capas duras ou de couro.

O velho homem também os lia e vorazmente consumia com os olhos os que contavam a vida dos ricos, buscava entender a roda da fortuna, mas também se deleitava com livros de medicina, pois sabemos que o equilíbrio entre mente e corpo é justo e necessário.

Sim, é verdade, mente sã, corpo são. Todos sabem disso.

Próximo à porta, ficava sua escrivaninha de madeira antiga, que alguns diriam ser mogno e logo perto a sua companhia diária, uma lareira capaz de dar vencimento a qualquer frio que viesse. Nem grande, nem pequena, era suficiente para aquecer a sala e mantê-la em uma temperatura agradável.

Além disso, uma cadeira confortável o suficiente para apreciar um bom chá preto.

O homem amável, convivia com pessoas entrando e saindo da biblioteca, buscando conhecimento, entretenimento e nesta busca trocavam os livros de seus lugares habituais. E lá ia ele reposicionar os livros, levá-los a seus lugares de direito, mas não sem antes jogar lenha na lareira.

É bem verdade que algumas vezes nem esperava o visitante escolher o livro e já se levantava de pronto para pegar uma tora de lenha e colocá-lar para queimar no fogo que ardia na lareira. Passou a fazer isso com alguma frequência, mesmo em momentos que não havia frio, mas havia fogo na lareira.

Outras vezes colocava uma acha e outra para esperar o próximo visitante que viria fazer bagunça em seus livros tão arrumados, em sua biblioteca tão organizada e planejada para ter todos os livros que tinha e na posição que estavam posicionados.

Um certo dia, que não estava nem frio, nem calor, recebeu uma inspeção. Inspeção essa promovida pela instituição que mantinha a biblioteca provida de bons livros e que pagava um poupudo salário para um bibliotecário.

Não demorou muito para que recebesse o relatório da visita, pequeno. A inspetora geral escreveu em uma folha simples e meio amarelada com inscrições institucionais no cabeçalho e rodapé. Não eram mais que 10 linhas, entre saudações e despedidas as suas recomendações:

Sugiro ao Sr. bibliotecário que se comunique com seus nobres visitantes e instrua-os sobre a devida posição dos livros, antes que queime uma floresta inteira, leve esta instituição à falência e fique sem trabalho, ou o aquilo que vier primeiro.

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